Você certamente já brincou com um trapezista de madeira, daqueles com duas hastes verticais que, ao serem pressionadas, fazem o bonequinho dar uma cambalhota.
Mas sabia que esse é um brinquedo originalmente brasileiro e – melhor! – foi inventado por uma criança?
Nesse post especial, a gente conta a história do artesão Otávio José da Silva, reconhecido como o inventor do boneco trapezista, conhecido originalmente como Mané Gostoso.
O menino Otávio José da Silva nasceu em 1930 e vivia com a família no interior de Pernambuco. Desde muito pequeno, era ele quem produzia os brinquedos que serviriam para si e para os irmãos. Aos 6 anos, já moldava cavalinhos com barro e deixava a imaginação galopar com eles.
Aos 8, um acidente com pólvora tirou sua visão, mas não a vontade de brincar e a criatividade.
“Meu irmão, Anísio, me entregava o barro nas mãos e eu apenas com o tato conseguia esculpir as peças”, contou em uma entrevista ao Jornal Extra de Pernambuco.
O tratamento caseiro, feito a base de ervas e banha de galinha, surtiu efeito e logo o menino voltou a enxergar. Foi justamente após esse período que desenvolveu a mecânica que daria origem ao famoso brinquedo.
Bom ai quando eu completei 10 anos ai eu disse vou usar outro negócio. Eu usava casca de cunha… Aí furei outro buraco, botei duas linhas, ai quando eu fiz assim aquela rodinha fazia vul vul…(risos) eu achava era bonitinho. Ai eu fiz isso, ai fui mostrar ao meu pai. Eu fazia assim, aí quando eu fazia assim, aquela rodinha com dois buraquinhos puxando. Olha meu pai, como é bonitinho tá vendo?… Aí quando eu mostrei ao meu pai, vige Maria que meu pai ficou doidinho com aquele bonequinho! Aí pai ficava brincando com ele assim, mai como é tão gostoso, é gostosim de mais. Aí eu digo aí, o nome dele eu vou botar Mané gostoso!…
Otávio José da Silva, em entrevista para o artigo Mané Gostoso: sua história e do seu criador
O boneco saiu da imaginação do menino e logo começou a ser reproduzido por outros artesãos, chegando até mesmo a ganhar versões fora do Brasil.
Entregava aqui em Caruaru. Entregava nos Estados Unidos, era internacional. Que os turistas vinham e já tinha o lugar certo deles vim pegar. Pegar e levar. Né? Os inglês, os americano, os japonês… Tudo isso levava peça daqui. Eu vendia aquilo ali por dúzia. Eu vendia cada dúzia a 5 cruzeiro antigo. (…) Aí eu comecei entregando na feira né? Aí os curioso pegava e levava e chegava lá ia caprichar pra fazer também. Aí foi quando entrou os piratas. Aí eles vendiam barato, os que ia comprar mais caro não queria, queria o mais barato.
Otávio José da Silva, em entrevista para o artigo Mané Gostoso: sua história e do seu criador
Apesar de ter seu trabalho reconhecido em eventos de arte popular, Seu Otávio não colheu os frutos de sua criação, ao menos financeiramente. Mesmo produzindo intensamente, o artesão ainda precisou complementar a renda como jardineiro e operador em uma fábrica. Em 2013, o Mané Gostoso foi considerado patrimônio cultural brasileiro pelo Iphan.